Depois de um livro de crónicas (A brincar que o digas, 2001), dois ensaios torguianos (Miguel Torga, a força das raízes, 2007, e Dois homens num só rosto, 2013), um livro de contos (Histórias que o povo tece. Contos do Marão, 2012) e a organização de duas antologias temáticas (uma delas, sobre a poesia feminina trasmontana, vai ser proximamente apresentada, no âmbito do Festival Literário de Bragança), Hercília Agarez (Vila Real, 1944) acaba de publicar o seu primeiro livro de poesia, As asas da libelinha, na Lema d’Origem. Trata-se de mais de duas centenas de poemas muito curtos, na tradição do haiku japonês, por excelência a forma poética da leveza e do efémero. É o caso deste: «Amendoeiras em flor,/ neve da Terra Quente,/ festival etéreo.» (p. 57) Contudo, muitas vezes esses haikus transformam-se em verdadeiros aforismos em que o tom lírico dá lugar a um tom irónico, não raro sarcástico: «Quando têm fome/ perdem a empáfia/ os flamingos.» (p. 69) Outras vezes os poemas são como que uma mistura das duas coisas, suavemente magoados como este: «Não contes comigo, Letes./ Nessa viagem/ fica-me o Douro mais perto.» (p. 133) O livro foi apresentado no dia 28 de Maio de 2015, no Auditório da Biblioteca Municipal Dr. Júlio Teixeira. Apresentou o poeta e contista António Fortuna.