O mais recente livro de poesia de Vítor Nogueira, Mar Largo (edição &etc, capa de Paulo Araújo) é, como acontecia com os anteriores, um conjunto de poemas altamente estruturado, melhor dizendo: temático.
O ponto de partida é o calcetamento, em 1848, da Praça do Rossio, em Lisboa. Na primeira parte do livro, assistimos aos trabalhos, executados por reclusos, sob a orientação do engenheiro Eusébio Furtado. Dá-se conta, de forma subtil, do esforço enorme e monótono dos operários à força, parecendo às vezes que o poeta toma para si a condição deles, forma de com eles se solidarizar. Mas este ponto de partida concreto e histórico não impede o autor de, insistentemente, fazer as suas reflexões sobre o sentido da vida: “(...) o que fazer das coisas / que não foram concebidas para andar no solo? / Como por vezes os nossos pensamentos.” Ou então: “Onde / um dia voltaremos ao que éramos, / contornos de uma beleza intocável, cinzas / que mal conseguiram ser brasas.”
A segunda parte concentra-se no espaço geográfico actual do Rossio, com os seus cafés e com a sua fauna urbana ― pretexto para sempre ácidas e pertinentes inquietações.
Um livro belíssimo, dos mais belos que lemos neste ano de 2009.
O ponto de partida é o calcetamento, em 1848, da Praça do Rossio, em Lisboa. Na primeira parte do livro, assistimos aos trabalhos, executados por reclusos, sob a orientação do engenheiro Eusébio Furtado. Dá-se conta, de forma subtil, do esforço enorme e monótono dos operários à força, parecendo às vezes que o poeta toma para si a condição deles, forma de com eles se solidarizar. Mas este ponto de partida concreto e histórico não impede o autor de, insistentemente, fazer as suas reflexões sobre o sentido da vida: “(...) o que fazer das coisas / que não foram concebidas para andar no solo? / Como por vezes os nossos pensamentos.” Ou então: “Onde / um dia voltaremos ao que éramos, / contornos de uma beleza intocável, cinzas / que mal conseguiram ser brasas.”
A segunda parte concentra-se no espaço geográfico actual do Rossio, com os seus cafés e com a sua fauna urbana ― pretexto para sempre ácidas e pertinentes inquietações.
Um livro belíssimo, dos mais belos que lemos neste ano de 2009.