A Assírio & Alvim, uma das nossas mais prestigiadas editoras de poesia, acaba de publicar um grosso volume que reúne toda a obra poética de Rui Pires Cabral, à excepção dos livros de poemas-colagens que apareceram nos anos mais recentes, de que é exemplo Oh! Lusitania. Inclui ainda Evasão e Remorso — um conjunto de poemas que ainda não havia sido publicado em livro — e uma secção final com alguns textos dispersos e inéditos, para além de alguns desenhos de Daniela Gomes (artista vila-realense) e uma colagem de Martin Copertari na capa. Tem o singelo título de Morada.
A obra dá-nos uma perspectiva completa sobre a poesia de Rui Pires Cabral, onde estão presentes os seus cenários recorrentes: o paraíso perdido da infância, onde houve inúmeros momentos de felicidade e companheirismo, revisitado com referência explícita a muitos dos lugares onde decorreu; as andanças pela Europa, fonte de conhecimento mas também de angústias; o quotidiano baço de Lisboa, igualmente motivador de inquietações e inadequações. O poeta dirige-se frequentemente a si próprio, modo de pôr a tónica na permanente questionação do sentido da existência — ou da falta de sentido, ou mesmo, muitas vezes, do seu absurdo. «Se nos cruzássemos nas ruas desta cidade// entre desconhecidos de toda a sorte, talvez/ nos sentássemos a falar da nossa vida, isto é,/ de como vamos ficando cada vez mais órfãos/ de nós próprios. Ou, pensando bem, talvez não.»
MORADA, POESIA REUNIDA DE RUI PIRES CABRAL
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